Com uma alta demanda de trabalho por
enfrentar, a classe de caminhoneiros vem sentindo-se ameaçado e pressionado por
meio de diversos quadros que abrangem fatores de risco para saúde e bem estar
próprio, tais como os seguintes: maior insegurança no emprego, dificuldade nas
relações interpessoais, assédio moral, problemas emocionais, moral baixo,
diminuição da motivação e da lealdade, todos considerados fatores estressores
do ambiente de trabalho. Com tudo, os trabalhadores apresentam ao mesmo tempo
um repertório de enfrentamento deficitário, dando origem ao estresse
ocupacional e à depressão, entre outros (Cooper, 2007).
No
que tange a profissão de caminhoneiro, dirigir um número grande de horas por
dia tornou-se um fato “naturalizado” pelos mesmos, provavelmente fruto da
organização do trabalho que estabelece prazos curtos para a entrega de mercadorias.
Um exemplo dessa afirmativa é a fala de um caminhoneiro autônomo, de 74 anos
(41 anos de profissão), que mora em Londrina-PR, tem um Mercedes-Benz 1113, ano
65, com o qual transporta trigo na região paranaense e outros estados e que
dirige entre 18 a 20 horas diariamente. “Quando a noite está bonita eu finco o
pé e só paro ao amanhecer” (Siqueira, 2004).
A forma como a atividade do caminhoneiro se
dá, com longas distâncias a percorrer, datas e horários com intervalos curtos
para entrega das cargas, remuneração por produtividade (que, provavelmente,
obriga o caminhoneiro a trabalhar além do limite contratual), uso de
medicamentos para não dormir, pode estar relacionada à gênese dos sintomas e
sinais detectados.
Com tudo, para Ferreira e Carneiro (1999), o
conflito entre a organização do trabalho e o processo de trabalho é uma das
causas da fragilização somática que interfere na saúde mental das pessoas,
desorganiza o sistema imunológico (portanto, a defesa espontânea do organismo)
predispondo-o a doenças orgânicas. Já para Dejours (2004), este conflito entre
a organização do trabalho e o funcionamento psíquico dos homens dificulta a
possibilidade de adaptação, pois o desejo do indivíduo não é contemplado, o que
pode fazer emergir o sofrimento patogênico e não a doença orgânica.
REFERÊNCIAS:
COOPER, C. L. (2007). A natureza mutante do
trabalho: o novo contrato psicológico e os estressores associados. In A. M.
Rossi, P. L. Perrewé, & S. L. Sauter (Orgs.), Qualidade de vida no trabalho:
perspectivas atuais da saúde ocupacional (pp.
3-8). São Paulo: Atlas.
DEJOURS,
C. (2004), Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho.
Orgs: Lancman, S. e Sznelwar, L. I., Ed. Fiocruz, Rio de Janeiro e Ed. Paralelo
15, Brasília.
FERREIRA,
C. e CARNEIRO, M. T. (1999), Prevenção das Doenças do Coração - Fatores de
Risco, Ed. Atheneu, Rio de Janeiro.
LAPLANCHE, J., & PONTALIS, J. B.(2004). Vocabulário da psicanálise. São
Paulo: Martins Fontes.
SIQUEIRA,
K. (2004), “Sem Regulamentação, Carreteiros Rodam sem Parar”, Revista O
Carreteiro, ed. 356.

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