segunda-feira, 8 de junho de 2015

Longas jornadas de trabalho x Saúde

Com uma alta demanda de trabalho por enfrentar, a classe de caminhoneiros vem sentindo-se ameaçado e pressionado por meio de diversos quadros que abrangem fatores de risco para saúde e bem estar próprio, tais como os seguintes: maior insegurança no emprego, dificuldade nas relações interpessoais, assédio moral, problemas emocionais, moral baixo, diminuição da motivação e da lealdade, todos considerados fatores estressores do ambiente de trabalho. Com tudo, os trabalhadores apresentam ao mesmo tempo um repertório de enfrentamento deficitário, dando origem ao estresse ocupacional e à depressão, entre outros (Cooper, 2007).
No que tange a profissão de caminhoneiro, dirigir um número grande de horas por dia tornou-se um fato “naturalizado” pelos mesmos, provavelmente fruto da organização do trabalho que estabelece prazos curtos para a entrega de mercadorias. Um exemplo dessa afirmativa é a fala de um caminhoneiro autônomo, de 74 anos (41 anos de profissão), que mora em Londrina-PR, tem um Mercedes-Benz 1113, ano 65, com o qual transporta trigo na região paranaense e outros estados e que dirige entre 18 a 20 horas diariamente. “Quando a noite está bonita eu finco o pé e só paro ao amanhecer” (Siqueira, 2004).
 A forma como a atividade do caminhoneiro se dá, com longas distâncias a percorrer, datas e horários com intervalos curtos para entrega das cargas, remuneração por produtividade (que, provavelmente, obriga o caminhoneiro a trabalhar além do limite contratual), uso de medicamentos para não dormir, pode estar relacionada à gênese dos sintomas e sinais detectados.
 Com tudo, para Ferreira e Carneiro (1999), o conflito entre a organização do trabalho e o processo de trabalho é uma das causas da fragilização somática que interfere na saúde mental das pessoas, desorganiza o sistema imunológico (portanto, a defesa espontânea do organismo) predispondo-o a doenças orgânicas. Já para Dejours (2004), este conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico dos homens dificulta a possibilidade de adaptação, pois o desejo do indivíduo não é contemplado, o que pode fazer emergir o sofrimento patogênico e não a doença orgânica.

REFERÊNCIAS:

COOPER, C. L. (2007). A natureza mutante do trabalho: o novo contrato psicológico e os estressores associados. In A. M. Rossi, P. L. Perrewé, & S. L. Sauter (Orgs.), Qualidade de vida no trabalho: perspectivas atuais da saúde ocupacional (pp. 3-8). São Paulo: Atlas.  

DEJOURS, C. (2004), Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Orgs: Lancman, S. e Sznelwar, L. I., Ed. Fiocruz, Rio de Janeiro e Ed. Paralelo 15, Brasília.

FERREIRA, C. e CARNEIRO, M. T. (1999), Prevenção das Doenças do Coração - Fatores de Risco, Ed. Atheneu, Rio de Janeiro.

LAPLANCHE, J., & PONTALIS, J. B.(2004). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes. 

SIQUEIRA, K. (2004), “Sem Regulamentação, Carreteiros Rodam sem Parar”, Revista O Carreteiro, ed. 356.


Nenhum comentário:

Postar um comentário